Médicos receitam remédios de que sabem pouco, para doenças de que sabem ainda menos, a pessoas de quem não sabem nada. Voltaire |
Poesia e Diabetes
Houve quem estranhasse: porque um livro para diabéticos? Publicamos poemas, máximas e textos com humor e crítica social: o que isso tem a ver com uma condição médica? Seria apenas uma experiência pessoal, um ponto fora de nossa trajetória?
Em parte é, sem dúvida, o reflexo de uma experiência pessoal. Mas existe um alinhamento entre o que propõe o "Meu Manual..." e nossa história editorial.
Antes de mais nada porque não fizemos um livro sobre uma "condição médica". As complicações do diabetes - onde reside o seu perigo real - são acionadas pela associação entre predisposições genéticas e fatores ambientais, entre os quais os hábitos e a atitude mental da pessoa. O que determina quais gatilhos genéticos serão acionados ou não - seja para desenvolver uma habilidade (musical, com números) ou para desenvolver uma cardiopatia - são as nossas escolhas e a forma como encaramos a vida. Trabalhar no que gosta, respeitar seus afetos (e desafetos), preservar a sua ideologia, alimentar-se bem e procurar a beleza não estão geneticamente determinados. Fazem parte das aventuras que escolhemos ou não para nosso cotidiano. Mas têm um impacto determinante no acionamento ou não dos nossos gatilhos genéticos para a saúde e a doença.
E o Livro da Tribo tem uma longa trajetória de reflexão sobre estas escolhas e sobre esta maneira de nos posicionarmos no mundo. A poesia, por exemplo, está em quem lê tanto quanto em quem redigiu o poema. Tornar-se poeta, no entanto, é uma questão de coragem para expor-se, para ousar. A poesia é linda mas tornar-se poeta é uma escolha das difíceis (ou inevitáveis).
Nossa intenção, ao escrever o "Meu Manual..." foi focar nesta dimensão íntima e pessoal de quem tem diabetes ou convive pertinho de quem tem. Lembrar que esta pessoa é mais que paciente, é agente de seu presente e de seu futuro. E marcar uma posição: não é possível ser saudável numa perspectiva negativa e vitimizada. Parte da saúde, portanto, está em esculpir uma vida que valha a pena ser vivida. De uma forma...poética!