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9.9.11

Mataram Johni


Um punk foi morto na porta de um show por um grupo nazista. Não foi na Áustria, foi em São Paulo. E essa história não vem de hoje.
Aprendemos a respeitar os punks pela coragem de denunciarem as mazelas da cidade: vimos campanhas antifascistas, feministas (foram grupos punk que começaram com o uso do @ para não discriminar sexo, p.ex. em amig@s), contra a discriminação racial e a violência policial. Você pode não gostar da música deles, mas não há dúvida que eles são a expressão mais sofisticada de ação política progressista na periferia das grandes cidades. Além disso, admiramos também os coletivos punks por não endeusarem seus líderes e por buscarem, na aridez de uma cidade como São Paulo, o afeto e a pertença a uma família ampliada que não reproduza os vícios da família burguesa tradicional, alienada do meio em que vive.
E também tem os skinheads. Parte deles sintoniza-se com os punks nos ideais libertários - já estivemos em manifestações em que skinheads anarquistas protegiam a passeata. Infelizmente, tornaram-se mais conhecidos pela sua facção fascista, marcada pela violência e por uma plataforma de direita radical que é o oposto dos punks: agridem pessoas pela cor, por serem nordestinos, têm horror aos homossexuais e as mulheres, bem, as mulheres nunca deveriam ser mais que mães pra eles.
Há uma guerra nem tão surda assim entre punks e skins. Você pode acompanhá-la nos jornais, mas nós a vivemos dentro de casa. A Tribo nunca foi neutra em relação ao território que ocupava. Na década de 90, quando tínhamos uma sede perto do metrô Santa Cruz, em São Paulo, convivemos com vários grupos punks e convidamos um dos coletivos para trabalhar conosco em acabamento gráfico. Foi o que bastou: um grupo de skinheads do bairro considerou a presença dos punks uma provocação e invadiu a nossa sede, pistola em punho, barras de ferro na mão, procurando-os. A reação do pessoal do acabamento - um grupo de mulheres corajosas e difíceis de intimidar - afastou-os. Mas passamos algumas semanas de sobreaviso, vendo-os rondar a área.
Fizemos, então, algo que nos vinte anos da Tribo nunca aconteceu de novo: chamamos a polícia. Identificados, eles se afastaram.
A grande mídia vai sempre apresentar a todos como desordeiros. Punks, carecas, todos iguais: uma unidade feita da insignificância que os atores sociais têm para quem considera notícia a vida privada do Luciano Huck.
Mas esta Tribo sabe: punks e carecas não são a mesma coisa.

23.1.10

Vá e veja

...é o titulo de um filme arretado sobre a II Grande Guerra. E o link abaixo é um depoimento cristalino sobre o que a guerra sempre é.
Faxineiro, era pra postar o que a gente encontrou de bacana na net, era não?

http://www.youtube.com/watch?v=SGsXRTZlGxs&feature=player_embedded

30.1.05

Tudo É Música (Que É Tudo)

Fui ao Pantanal e na volta encontro esse delicioso debate sobre sedução, detonado pela música “Por que que eu não pensei nisso antes”, do Itamar Assumpção. Pedro elogia a sedução; Jane desconfia dela; Pati fala do masculino e do feminino.
Pois estava tudo lá, na música que inspirou Pedro ao primeiro post. Como ele ressaltou, sedução é convencer sem brutalidade, usando criatividade e sensualidade. Conquistar o coração do outro:

Pensei em seduzir você, com algo bem provocante
gingando num bambolê, me equilibrando em barbante (...)

bater no peito e dizer, num brado bem retumbante:
“Só penso em você!” – Por que que eu não pensei nisso antes?

Mas tem a sedução da matéria. Tem aquilo que a Jane critica:

Pensei em seduzir você fazendo ar de importante
Te oferecendo um apê, um drink, um refrigerante (...)

dançando numa tevê, coberto por diamantes
num carrão zero – porque que eu não pensei nisso antes...
E, por fim, a coisa do masculino buscando o feminino, da Pati:

Pensei em seduzir você domesticando elefantes
cuidando bem de bebês, doando-me pra transplantes

Além de fazer crochê, pensei dar vôo rasante
ir ao cinema, escrever, reinar neste caos reinante
por cargas d’água, porque que eu não pensei nisso antes?

É por isso que a música é maior. Porque não fraciona, reúne. O desejo de sedução da música mistura tudo, como acontece em nós, nesta bagunça da nossa emoção. Com muito humor, ainda por cima:

Pensei em seduzir você mostrando-me confiante
plantando um pé de ipê, ecólogo ambulante
limpando o rio Tietê, e os outros rios restantes
ser carioca – e baiano! – porque que eu não pensei nisso antes?

Pronto. Um tratado sobre o pior e melhor da sedução. Poético e, ainda por cima, dançável.
(disco “Pretobrás”, de Itamar Assumpção)

25.1.05

Sedução e Consumo

Pedro tem este jeitinho acadêmico de dizer as coisas como se não houvesse uma ideologia por trás. Maneirinha professoral, coisinha que parece estar falando o óbvio.
Mas não me digue que sedução não é diferente de força, pelo menos não hoje. Vejo a criançada seduzida por música estrangeira, vejo adolescentes seduzidos por tênis importados, vejo homens feitos seduzidos por carros reluzentes. Vejo a sedução da mídia, dos políticos que imitam nossos pais, vejo uma pá de mentiras bem arrumadinhas e reluzentes, que de tão bonitas ficam mais apetitosas que a verdade.
É só ligar a TV na Globo e se conclui que sedução é poder, no estilo mais tradicional possível – só que apresentada com um jeito de arte, com música, com psicologia manipulativa. A sedução do corpo perfeito, da mulata rebolante, do luxo.
Afe, eu tô preferindo o porrete que pelo menos é mais claro.