9.12.05

Meninas, parem! (Raquel, continue!)

Eu não entro neste bate boca,
e pra mim a beleza continua por toda parte.
É ter olhos e alma pra vê-la.
Aqui em frente tem um parquinho,
e Julinho – 3 anos –
continua descobrindo o mundo.
Nem aí pra crise.
Eu também.
É isso.
Beleza, só pra quem veste olhos (e, pra música, ouvidos) de criança.
Fred

Retomando

É sempre um prazer ler a Raquel. Quando perguntei ao faxineiro quem era, ele me respondeu que é a campeã dos textos da Tribo: ninguém recebe mais comentários do que ela.

Já Martha muda de assunto, mas não deixa de aperrear. Eu não sou cega, vejo tudo direitinho. Pra mim podridão é esta conspiração conservadora contra as forças progressistas.
Lamento também a ausência do Livro da Tribo neste ano. Espero que nós leitores continuemos a contribuir não só com beleza, mas com a crítica e a lucidez necessárias em tempos tão turbulentos.

Jane

6.12.05

Chega Disso

Não falo mais de corrupção e de governo. Meu negócio é beleza. Cansei de me desgastar com as pessoas queridas, que insistem em não ver a podridão.
Então, deixemos a podridão de lado. O Faxineiro deve ter avisado que a Tribo está fora do ar este ano, certo? Não gostei. O Brasil já está feio o suficiente, imagine então sem poesia.
Portanto convido os amigos amantes das belas letras a produzirem e enviarem seu material pro pessoal da Editora. Caprichem, enviem logo.
Estamos precisando desesperadamente de luz e de alegria.
Martha



chega de feiura

22.11.05

Sumimos (mas não subimos no telhado...)

Como diligente faxineiro, tenho que me desculpar pela bagunça. Deixei cair a peteca do meu serviço aqui. Peguei uma empreita brava e fiquei zoado nestes últimos meses.
Sabe como é, faxineiro é pau pra toda obra. De formas que tive que atender um cliente VIP, a Tribo, que tava precisando de uma geral urgente urgentíssima (saiba mais aqui).
Não tá pronta, mas tá encaminhada.
Pra ser justo, é preciso dizer que os acontecimentos do País tb não ajudaram: isto de valerioduto e crise política abriu uma guerra entre nossos colaboradores. Gente fina, opiniões firmes.
Mas acho que concordamos numa coisa: é preciso manter o vento ventando, os rios correndo na direção correta, o giro da terra em seu eixo. E os posts neste blog.

Donde, estamos de volta.
Beijabrações,

30.1.05

Tudo É Música (Que É Tudo)

Fui ao Pantanal e na volta encontro esse delicioso debate sobre sedução, detonado pela música “Por que que eu não pensei nisso antes”, do Itamar Assumpção. Pedro elogia a sedução; Jane desconfia dela; Pati fala do masculino e do feminino.
Pois estava tudo lá, na música que inspirou Pedro ao primeiro post. Como ele ressaltou, sedução é convencer sem brutalidade, usando criatividade e sensualidade. Conquistar o coração do outro:

Pensei em seduzir você, com algo bem provocante
gingando num bambolê, me equilibrando em barbante (...)

bater no peito e dizer, num brado bem retumbante:
“Só penso em você!” – Por que que eu não pensei nisso antes?

Mas tem a sedução da matéria. Tem aquilo que a Jane critica:

Pensei em seduzir você fazendo ar de importante
Te oferecendo um apê, um drink, um refrigerante (...)

dançando numa tevê, coberto por diamantes
num carrão zero – porque que eu não pensei nisso antes...
E, por fim, a coisa do masculino buscando o feminino, da Pati:

Pensei em seduzir você domesticando elefantes
cuidando bem de bebês, doando-me pra transplantes

Além de fazer crochê, pensei dar vôo rasante
ir ao cinema, escrever, reinar neste caos reinante
por cargas d’água, porque que eu não pensei nisso antes?

É por isso que a música é maior. Porque não fraciona, reúne. O desejo de sedução da música mistura tudo, como acontece em nós, nesta bagunça da nossa emoção. Com muito humor, ainda por cima:

Pensei em seduzir você mostrando-me confiante
plantando um pé de ipê, ecólogo ambulante
limpando o rio Tietê, e os outros rios restantes
ser carioca – e baiano! – porque que eu não pensei nisso antes?

Pronto. Um tratado sobre o pior e melhor da sedução. Poético e, ainda por cima, dançável.
(disco “Pretobrás”, de Itamar Assumpção)

25.1.05

Sedução e Consumo

Pedro tem este jeitinho acadêmico de dizer as coisas como se não houvesse uma ideologia por trás. Maneirinha professoral, coisinha que parece estar falando o óbvio.
Mas não me digue que sedução não é diferente de força, pelo menos não hoje. Vejo a criançada seduzida por música estrangeira, vejo adolescentes seduzidos por tênis importados, vejo homens feitos seduzidos por carros reluzentes. Vejo a sedução da mídia, dos políticos que imitam nossos pais, vejo uma pá de mentiras bem arrumadinhas e reluzentes, que de tão bonitas ficam mais apetitosas que a verdade.
É só ligar a TV na Globo e se conclui que sedução é poder, no estilo mais tradicional possível – só que apresentada com um jeito de arte, com música, com psicologia manipulativa. A sedução do corpo perfeito, da mulata rebolante, do luxo.
Afe, eu tô preferindo o porrete que pelo menos é mais claro.

15.1.05

Martha e a Realidade Partidária

Martha, minha querida: sou só uma pessoa incrédula com a história que se escreve – ela é sempre a de quem ganhou a guerra.
Hoje lembrando uma de minhas viagens pelo Amazonas, quando cheguei aos países andinos e vi uma profunda aversão a tudo que é espanhol, me perguntava se eles seriam mais felizes se tivessem sido colonizados pelos saxões. Quando vejo um Canadá, Estados Unidos ou Austrália nessa prosperidade que hoje tomamos por modelo, imagino que se os colonizadores latinos tivessem seguido seu método de eliminação total dos aborígenes não teriam se elevado a potências mundiais, usando seus poucos nativos que sobram para o que em sua opinião servem: música, esporte e guerra.
Deve ser bom olhar das janelas de imensos bancos, com orgulho, estas minorias negras e hispânicas hastear a bandeira do colonizador festejando os êxitos militares, esportivos ou musicais que eles colonizadores atribuem a si próprios. Bandeiras de pátrias que se apresentam brancas e de olhos azuis, bandeiras impostas como símbolo destas pátrias.
Lembro-me de Lima, cidade construída séculos antes da chegada do colonizador, com a preocupação de sempre haver sombra em suas ruas para a caminhada. Não há o menor crédito para os que em épocas em que não havia ar condicionado projetaram e construíram esta maravilha, apenas ruas ruinosas e descuidadas.
Digo tudo isso porque a realidade não tem lado escuro nem claro, é uma só, o que não impede cada um de escolher o que quer ver. A beleza nos mantém vivos. Mas eu, por meu lado, quero contar o que vi e senti, quero ouvir outras opiniões – como a sua – e confesso que adoro uma polêmica. Prefiro-a à toda unanimidade burra.

Gastón e o Lado Escuro




Estive lendo o post de 2-01-2005 do nosso ilustre senhor químico. Espanholíssimo, revoltado como sempre, querendo distribuir culpa não só pelas mazelas de nossa terra linda mas também por aquelas de alhures. Ah, Gastón, como te complace o lado negro!
Eu, por mim, continuo olhando para o belo: pessoas, textos, natureza. Espero pros nossos leitores e pra você, Gastón, muita beleza neste 2005!

14.1.05

Começando Tudo

Pronto, já é 2005, começou tudo novo. Concordo com o que foi dito pelos amigos no fim do ano: que comece, e que seja novo.
Eu, por mim, neste corpinho que mamãe me deu, estou me sentindo começando. Não é o começo "com gosto de pão fresco" do Drummond. É um começo de parto, mesmo: tenho pedaços de placenta grudados, sinto a dor muscular da luta pra chegar ao zero, meus pulmões ainda ardem do último grito. Sou Zen, mas também sofro.
Depois da ralada, de bater com a cara no muro (ah, o amor...), estou assim, recém-nascido. Não perdi minha história, mas estou com olhos novos. Pronto para engatinhar, andar, tropeçar, cair, andar. E, quando for preciso, nascer de novo.

2.1.05

Corações e Mentes - Ausentes



Como todos, senti o soco no estômago ao ver as imagens e imaginar as proporções do que aconteceu na Ásia.
Um desastre natural destas proporções deixa a gente cheio de dúvidas. As minhas são sobre nós, os espectadores da catástrofe.
Claro, somos solidários. Quem tem fé reza, quem é da ação doa, na Paulista fizeram um minuto de silêncio. Afinal, foram provavelmente 300 mil mortos, e a situação dos sobreviventes é desesperadora.
Mas em Ruanda foram mais de 800 mil mortos. Assassinados brutalmente, com facões. Estupro, massacre. Porque eu não senti este nó no estômago? Você, que lê estas linhas, consegue comparar o que sentiu então com o que ocorre agora? Fazem apenas 10 anos... Tá, você é novinho e nem sabia ler em 1.994. E Darfur, há apenas alguns meses? Dezenas de milhares de pessoas - crianças, velhos, famílias inteiras - massacrados por sua etnia e religião? E não era a mãe natureza, não , eram homens armados. Era previsivel, durou meses, era evitável.
Minha conclusão é simples: nós sentimos o que vemos. Deixe-me ser mais claro:
nós sentimos o que vemos. E o que nos é dado ver é selecionado, escolhido a dedo, filtrado. Algum leitor não viu o drama das Torres de N. Y.? E quantos souberam dos genocídios na África?
O ano está começando, e não quero fazer o papel ranzinza de sempre. Não vou ficar aqui reclamando do sistema, do controle do governo e da comunicação de massa. Vou falar para você, que me lê, sobre este 2005 que está começando.
Olhe à sua volta. Bem pertinho, ali na esquina, onde aqueles moleques estão vendendo chicletes, onde o travesti é hostilizado pelos pais de família, onde o maconheiro apanha e é roubado pelo policial truculento. Veja estas pessoas.
Quem sabe, em 2.005, elas passem a existir para mim, para você
e para o mundo.